Desabafo frustrante de um escritor brasileiro.
Por Rui Sampaio
Uma boa parte da população não consegue compreender o que
é ser escritor. Alguns veem apenas como alguém que escreve bem, outros nem se
quer consideram como profissão, outra parte quando se fala em escritor tem em
mente uma imagem de alguém bem sucedido, reconhecido e culto, aquela pessoa que
se destaca pela paciência e criatividade para preencher um monte de páginas,
bem, culto é um bom adjetivo que até se enquadra, apesar de não ser uma regra
geral, porém ser reconhecido é algo que demanda tempo, bastante tempo e ser bem
sucedido nesta carreira é quase uma questão de sorte, tão utópico quanto
acertar na loteria, quando pensamos em escritor brasileiro nossa primeira referência
é Paulo Coelho com uma carreira que qualquer um gostaria de ter, autor de
milhões de copias vendidas e com o detalhe de que é muito reconhecido fora do
Brasil.
Ser escritor
brasileiro é viver uma saga de bastantes desafios e problemas, desde
administrar seu tempo de escrever (com outras coisas pelas quais é obrigado a
fazer) até a procura de uma editora que se interesse pelo que você escreve.
Entremos na saga das editoras, uma aventura quase tão espetacular quanto achar
as “horcruxes” para matar Voldemort ou sair vivo dos Jogos Vorazes, começando
pelo envio dos originais, muitas não recebem online, isto significa que você
irá gastar com impressão e envio, outras nunca lhe dão respostas deixando você
sem saber se ao menos leram o seu material, algumas são pagas, outras recebem e
publicam de “graça”, mas são na verdade uma gráfica travestida de editora, mas
até agora só falei das que recebem, ainda devo mencionar as muitas que não
querem saber de autores nacionais e que nem se quer tem um e-mail para envio de
originais.
Passado
a saga editoras entramos na saga leitores brasileiros, se você já é autor
publicado, parabéns, agora entramos na próxima fase do jogo. Leitores brasileiros
ainda são poucos, média de 4 livros ao ano, muitos preferem outras atividades,
livros é sinônimo de “chato”, “tédio” e “dor
de cabeça”. Aos que se propõem a ler preferem os best sellers, sempre os livros
da moda e na maioria de autores estrangeiros ou livros de blogueiros famosos,
assim o mercado vai se fechando, seu livro, que poderia até ser um best seller
vai ficando cada vez mais invisível e engolido por esses que “vendem mais” ou
que são de “pessoas conhecidas na rede”.
O escritor
que tem que trabalhar de outra profissão para se manter e investir em seus
livros passa a vida inteiro esperando um retorno de seu trabalho, com todos os
desafios que ele enfrenta caba se tornando uma pessoa cansada, ele cansa de
levar “não”, se cansa de ser chamado de sonhador e alienado, se cansa de não
ter apoio, se cansa das pessoas não querer ouvi-lo, se cansa de entrar nas
livrarias e vê vários livros que nem merecia tal destaque quando sua obra está
engavetada, se cansa de escrever, divulgar, fazer blogs, fan pags, sair as
ruas, dá palestras, ir nas escolas e nada.
Agora
voltemos ao paragrafo inicial onde falávamos sobre a imagem do que é ser um
escritor brasileiro, ser escritor é simplesmente ter escolhido uma vocação para
se decepcionar bastante, quando você percebe que vai ser bem mais difícil do
que pensou e que tudo denota de capital que você não tem então começa a pensar
que queria ter vocação para outra coisa, mas o irônico de tudo isso é que se o
escritor abandonar a escrita ele jamais será feliz.
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