FUNERAL ( Raysa Gonçalves/ Rui Sampaio)




Foste a carne, a matéria, o palpável
Quiseras tu encontrar sempre um alento
Agora andas desolado, sem destino, sem acalento
Desfigurado por uma dor intima e irremediável.

As chagas do teu amor doentio
Não sustentam pilares de ouro
O sangue coalhado de teus inimigos
Não afagam meu peito, andas louco.

Eu corria contra o tempo, não conseguia seguir em frente
Ouvia os gritos de misericórdia, via as dores antigas
Alimentava o ódio que herdei ainda menino
Caia infinitamente no abismo que insisti em manter aberto
Cheguei ao chão que pensei ser inexistente


Devolvi o tormento que meus genitores me deram
Voei sobre o mar de indecisão, da crença ao pagão
Provei que seguiria meu caminho mesmo que duvidassem
Me enchi de ouro, esvaziei-me do amor
O erro ficou, a bondade se perdeu
Me tornei seco como árvore abandonada
Meus frutos são doces espadas nos inimigos de minha infância
Sozinho me enterrei nos braços do meu lúcifer: EU!

Fiz um funeral do que a vida me roubou
De todo receio inútil de que ela me alimentou
Tu foste homem e agora és só o que dá traça sobrou
Aqui nada mais de esperança e liberdade restou.


Esta é mais uma poesia do projeto "procura-se poeta".

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